Professora da UFMS é classificada (nível regional) para o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2008 em âmbito nacional

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A professora mestre Marlei Sigrist do Departamento de Arte e Comunicação/CCHS é a proponente e coordenadora do Programa de Extensão Camalote – grupo parafolclórico, que hoje é um Ponto de Cultura – do Ministério da Cultura e seu desdobramento – o Projeto Camalote vai à escola.
A seleção do Programa Camalote pautou-se, principalmente, pelo aspecto de que o grupo tem, acima de tudo, uma obrigação assumida com a cultura popular. A parte importante desse trabalho é a responsabilidade que os professores das redes públicas de ensino, integrantes do grupo, têm com a educação; pois assumem o compromisso de aplicar, em suas salas de aula, os conhecimentos adquiridos na vivência junto ao Camalote. Essa proposta foi desenvolvida em 2003 com o apoio do projeto CIM da Fundação Barbosa Rodrigues, que organizou diversas culminâncias de trabalhos e a participação no desfile cívico no dia 26 de agosto, em comemoração ao aniversário de Campo Grande. Também a Secretaria Municipal de Educação desenvolveu trabalhos sobre o Patrimônio Imaterial do município e o grupo Camalote foi parceiro naquelas atividades junto às escolas.
Quem assiste às apresentações do Camalote não faz idéia do trabalho base para manter o grupo. Participam pessoas oriundas das mais diversas classes sociais e culturais, que carregam consigo valores e posturas muito diferentes. Às vezes muito divergentes, até gritantes. Há adolescentes vindos de escolas em que seus professores são integrantes do grupo há mais tempo. Alguns deles residem em bairros longínquos e não têm condições financeiras para pagar o transporte urbano, tendo que contar com a “boa ação” de alguns integrantes para que possam comparecer aos ensaios. Quando há apresentações à noite e o show termina muito tarde, a coordenação e mais duas ou três professoras transportam, em seus veículos particulares, esses adolescentes até suas residências, para que eles cheguem bem.
Também, o trabalho do grupo estende-se para além da preparação dos shows, abrangendo a realização de oficinas de arte na produção personalizada do material cênico e do figurino. Parte dos integrantes, sendo professores de arte, organiza oficinas com os demais e confeccionam todo o material. Apesar do apoio que o grupo recebe – em material, ainda é pouco para o que realmente necessita. Os tecidos têm que ser costurados para compor os figurinos. O cenário tem que ser projetado e, depois, construído. As alegorias também recebem o mesmo tratamento. É impossível pagar todos esses serviços e, por isso, o grupo trabalha nessa empreitada. Formam-se grupos de costura, de colagens, de recortes, de pintura, de marcenaria, etc. Essas atividades são desenvolvidas em horários extraordinários, geralmente à noite ou nos feriados. Durante os espetáculos, há um mutirão de outras pessoas simpatizantes do grupo que colaboram nos camarins do teatro e nas merendas, pois são programados lanches para todo o grupo e as equipes de suporte, perfazendo um total de 70 pessoas nessas ocasiões. Há escola que disponibiliza a cozinha e os panelões, outra a copeira, o Ceasa doa frutas e assim o grupo consegue concretizar o seu sonho – que é o de ocupar o palco, divulgar a cultura popular e receber o aplauso do público.
O trabalho do Grupo Camalote já produziu monografias de final de curso, sendo uma delas elaborada por acadêmicas do curso de comunicação social da UFMS, cujos resultados geraram um vídeo que está disponível na internet. Outro trabalho foi defendido em 2007 por um integrante do grupo – o Prof. Cláudio Ovando Piúna, no Curso de Artes Visuais/UFMS, que analisa sua participação enquanto multiplicador dessas atividades e relata o seu trabalho na escola em que atuou como professor e estagiário ao mesmo tempo.
A partir do sub-projeto Camalote vai à escola, desenvolvido em 2007 e que se repete em 2008, pode-se ter a certeza de que muitos outros grupos surgirão e darão maior visibilidade à cultura local/regional. Evidentemente, respaldados pela legislação, pois o Conselho Estadual de Educação tornou obrigatório o estudo da cultura regional desde 2007. A coordenação do projeto Camalote tem claro que a cultura do povo se constrói fazendo e não sendo mero espectador, pois como disse Jean-Claude Forquin, “é urgente que a escola entenda que a educação realiza a cultura como memória viva, reativação incessante e sempre ameaçada, fio precário e promessa necessária da continuidade humana” (in: Escola e Cultura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993, p.4).
Enfim, esse é o Grupo Camalote, que se mostra pela efervescência, pela busca constante de motivos para se apresentar bem, bonito e melhor, num esforço de reconstrução de suas próprias experiências humanas.